quinta-feira, 31 de agosto de 2023

LÁ VAMOS NÓS DA POESIA…

Coletivo de poetas faz lançamento, sarau e sessão de autógrafos na 40ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro

A Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro completa 40 anos com uma programação intensa, de 2 a 10 de setembro no RioCentro. Entre os lançamentos programados, o coletivo Nós da Poesia apresenta um sarau com os poetas Bianca Guzzo, Brenda Mar(que)s Pena, Luiz Otávio Oliani, Michelli Pessoa, Renilson Durães e Tchello d’ Barros, com sessão de autógrafos, no estande da editora All Print, no domingo, 3 de setembro, de 13h às 15 horas. 

O LIVRO 

 "Nós da Poesia - Vol. 08" 

Esta 8ª edição do projeto, reúne poemas de mais de 60 autores de 14 países da América Latina, no mais recente volume dessa publicação bianual do Instituto Imersão Latina - IMEL. Sediada em Belo Horizonte, a instituição realiza diversos projetos culturais em países latino-americanos com ênfase na interação cultural pela via da Literatura. Além dos poetas brasileiros integrantes do Coletivo Nós da Poesia, a edição apresenta textos de autores convidados de diversos países e uma sessão especial dedicada à Poesia Visual, com curadoria de Tchello d’Barros. Com coordenação editorial de Brenda Marques Pena, capa e ilustrações internas da artista visual Iara Abreu, a obra homenageia o poeta Cláudio Márcio (in memoriam).

POETAS

Autores publicados na antologia: 

Adircilene Batista e Silva, Alcione Vieira, Amapola Araya, Ana Leôncio, Avelin Buniacá Kambiwá , Beatriz Helena Puertas, Bianca Guzzo, Bilah Bernardes, Brenda Mar(que)s Pena, César Augusto de Carvalho, Cláudia Figueiredo, Claudia Vaca, Cláudio Bento, Cleide Costa Menezes, Eli Rodríguez, Ênio Silva, Gabriel Cisneros, Giselle Vianna, Giuseppe Camelia Intelisano, Hamilton Faria, Iván Verdugo, Irislene Castelo Branco Morato, Ivana Andrés, José Hilton Barbosa, José Marinho Filho, Julizar Dantas, Leymen Pérez, Liliana Bianco, Luiz Otávio Oliani, Marian Garrido Cordoví, Marluce Maria da Costa, Michelli Pessoa Marinho, Olga Valeska, Osmany Cecilia Sabalza Pacheco, Paulo Valéria Andrade, Renilson Durães, Rogério Barbosa, Rogério Salgado, Rosana Silva, Rosangela Ferris, Sidneia Simões, Susana Rojas, Tanussi Cardoso e Vicente Ferrer. 

A Poesia Visual é representada por Aaron Flores, Angye Gaona, Carlos Barroso, Clemente Padin Emilio López Gelcich, Franklin Valverde, _Guroga, Maya Lopes Muro, Michael Hurtado, Roberto Ncar, Victor Valqui Vidal, Tchello d’Barros e Tulio Restrepo.


ACESSIBILIDADE 

22 pílulas poéticas em áudio com 22 vozes poéticas com poemas dos autores de Nós da Poesia serão disponibilizadas em streaming e enviadas para associações de cegos, para a AIAB - Academia Inclusiva de Autores de Brasilia, bibliotecas inclusivas, repositórios de poesia oral e rádios, promovendo a difusão poética. 

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Lançamento com sarau e sessão de autógrafos na 40ª Bienal Internacional do Livro do Rio 

Nós da Poesia vol.8

Dia: 03/09

Horário: das 13h às 15h

Estande: X20, Pavilhão Verde

Riocentro: Av. Salvador Allende, 6555, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro / RJ

Mais informações sobre a Bienal, Ingressos e credenciamento pelo site: bienaldolivro.com.br

Todos os autores e profissionais do livro tem acesso gratuito ao evento. Para garantir sua gratuidade e evitar filas, faça o seu credenciamento eletrônico no endereço:  https://www.regtronweb.com.br/credenciamentooficial/gl/index/BIENALRJ23/pt/tipo/E/paginicialsite/1

A credencial é válida para todos os dias do evento e seu uso é pessoal e intransferível.

 

PARA SABER MAIS...

Informações e convite de lançamento. Difundam em suas redes! Acompanhem também instagram, facebook,  site e YouTube @imersaolatina @nosdapoesia

Contato para imprensa (31) 988119469

Brenda Marques Pena (organizadora)


quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Uma vida não é o bastante


Por Brenda Marques Pena

Helenice Rocha e Brenda Marques em lançamento do Nós da Poesia, volume IV,
na Bienal do Livro de Minas Gerais, em 2014.

Helenice era Rocha, fortaleza de palavras, com voz suave e branda destilava doçura. Falava de vida, morte e também da loucura que era viver em meio a tantos absurdos cotidianos. Cobertas de sua poesia, dela sempre lembraremos. Nesta hora cada um de Nós da Poesia sentimos um nó na garganta. Difícil despedir de uma amiga tão presente! Antes de partir nos deixou sete livros inéditos. O desejo dela: "Gostaria que minha poesia ficasse nos arquivos do IMEL - Instituto Imersão Latina". Reproduzo aqui um poema do último deles: "O Limbo das Horas":


TARDE
O pão sobre a mesa, o café
os pardais na janela, a fé 
exata a agonia da tarde
a loucura inata
O Limbo das Horas
da velha sozinha na casa.
Cada minuto uma sentença
preanuncia a despedida
a exatidão das horas
prediz o tempo do que foi
no irrecuperável movimento de partida
do minuto de antes para o de depois.






quarta-feira, 9 de maio de 2018

Uma década sem Artur da Távola



Soneto Inascido

O poema subjaz. Insiste sem existir 
Escapa durante a captura  
Vive do seu morrer.

O poema lateja.
É limbo, é limo,
Imperfeição enfrentada
Pecado original.

O poema viceja no oculto
Engendra-se em diluição
Desfaz-se ao apetecer.

O poema poreja flor e adaga 
E assassina o íncubo sentido. 

Existe para não ser.

(Artur da Távola) 

Por Fernando Moura Peixoto

“Artur da Távola – a pretexto ou a reboque da televisão – borda crônicas de nossa angústia cotidiana, tirando de cada átomo de significância televisionária uma lição ou pensação que seguramente constitui, para cada um dos seus leitores, uma pausa reflexiva no turbilhão insensato do dia a dia. É que nele há moral sem moralismo caturra e fechado, esperança sem embustes ilusionistas, cepticismo sem náusea, carinho psicolinguístico espontâneo capaz de captar os valores significados nos termos e vocábulos novos transados aqui e ali. Com isso, Artur da Távola tem sua legião de leitores gratos, em que me inscrevo grato.” ANTONIO HOUAISS (1915-1999).

De ascendência árabe, advogado, escritor, jornalista, cronista, poeta, radialista, musicólogo, professor, especialista em Educação, orador e político brasileiro – um dos fundadores do PSDB –, Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros – filho de Paulo de Deus Moretzsohn Monteiro de Barros e Madalena Koff Monteiro de Barros –, nasceu em 3 de janeiro de 1936 no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro – então Distrito Federal – e faleceu em 9 de maio de 2008, em sua residência no Leblon, na zona sul, aos 72 anos, vítima de problemas cardíacos.

Deputado estadual – no antigo estado da Guanabara – cassado pelo regime militar de 1964, depois de exilar-se na Bolívia e no Chile retornou ao Brasil em 1968. Teve uma coluna de televisão no jornal “Última Hora”, adotando o pseudônimo de Artur da Távola – em reverência ao Rei Arthur, da Távola Redonda –, para burlar a censura da época ao seu nome. Foi diretor de núcleo das revistas da Bloch Editores. Escreveu ainda sobre a mídia nos jornais “O Globo” e “O Dia”. Elegeu-se deputado federal, com mandato de 1987 a 1995 e senador da República, de 1995 a 2003. 

Em 2001 exerceu o cargo de secretário estadual de cultura da cidade do Rio de Janeiro – por nove meses. Funcionário mais antigo da Rádio MEC dirigiu a Rádio Roquette-Pinto FM. Apresentou o programa “Quem Tem Medo da Música Clássica?”, na TV Senado. Reitor de uma universidade particular carioca era torcedor apaixonado pelo Fluminense e um emérito namorador da Vida. Publicou 23 livros em sua existência.

Em primeiras núpcias desposou Anna Cristina Teixeira, filha do educador baiano Anísio Teixeira (1900-1971) – exponencial figura do pensamento social, responsável pelo conceito de escola pública no Brasil –, com quem teve três filhos, Leonardo, André e Eduardo. Casou-se pela segunda vez com Mirian Ripper Nogueira Lobo.

Artur da Távola – Paulo Alberto para os íntimos – dedicou-se a propagar a música, educação e cultura em nosso país. Partiu cedo demais e faz muita falta, principalmente, no complicado momento político que atravessamos. Não nos conhecíamos pessoalmente e “não fomos amigos falados” – como diria Monteiro Lobato (1882-1948) –, mas “fomos amigos escritos” por algum tempo.

FALA MESTRE ARTUR

“O livro inunda a gente de paternidade e criatividade. Ser lido é um privilégio. Procuro tratar com carinho cada leitor, pois a oferta de leitura no mundo é esmagadora. A crônica é uma forma contemporânea de filosofar.”

“O encontro e a ocupação do próprio espaço implica a descoberta (tranquila ou dolorosa) do que é realmente nosso e do que é dos outros e ficou preso dentro de nós. Aí está uma das descobertas fundamentais do ser humano.”

“Descobrir e ocupar o próprio espaço é encontrar a verdade existencial: no bom e no ruim que tenhamos. É ocupar com material próprio tudo o que somos e fazemos. É encontrar e seguir o próprio destino. Não o Destino, no sentido fatalista. Mas o destino no sentido da destinação profunda do que somos, fazemos e queremos.”

“Pela qualidade de sua obra alguém pode ficar famoso. Mas só pela qualidade de seu ser alguém fica querido. Ser querido e famoso nem sempre acontece com as pessoas, embora os dois conceitos sejam habitualmente confundidos.”

“Com a idade, fica-se mais sensível à beleza na proporção inversa à possibilidade de fruí-la... Tudo se torna mais refinado e sutil na percepção do homem idoso, quando refinado interiormente e sensível.”

“Nosso primeiro exame de consciência verdadeiro começa quando o pai morre. Nosso encontro com a morte inaugura-se com a dele. Nossa primeira noite sem proteção consciente dá-se quando ele já não está. E nunca somos mais sós que na primeira noite em que já não o temos. O pai é o mistério enquanto vida e a revelação depois de morto.”

“O carnaval é a brasilidade em sua forma aguda. A forma crônica a gente curte o ano inteiro. Ele concentra elementos muito profundos da constituição social e psicológica no atual estágio das raças que nos formaram.”

“No dia em que o homem se tornar inteligente e efetivamente livre, o esporte vai ser uma aferição exclusiva da autossuperação com a ajuda do outro, na condição de solidário e não de adversário. Deverá empenhar-se o máximo e o melhor que saiba. Como solidário e não como adversário, os desempenhos desportivos melhorarão enormemente.” 

“Chegará o dia em que, eliminada a competição, o homem encontrará prazer no esporte? Sonhando com ele, imagino-o, porém, impossível. Pelo menos no próximo milênio...”
“Eu acho o Rádio um instrumento que precisa ser redescoberto pelos intelectuais, pelo governo, pelos políticos, pelas pessoas de bom senso.”

“O Rádio pode fazer uma revolução cultural maior até do que a da televisão. Porque, pela natureza da comunicação radiofônica, ela é mais profunda do que a da TV. Primeiro, que a maioria dos aparelhos receptores hoje é também de uso individual, o que individualiza a recepção. Segundo, que o rádio trabalha no ouvido com a imaginação solta, e o ouvido é um sentido mais profundo do que o olho. O olho é muito volúvel, ele precisa normalmente de variação – você não consegue ficar meia hora olhando para o mesmo lugar. E isso faz com que a natureza profunda da comunicação radiofônica seja de uma penetração maior no ouvinte. Por isso ele é um instrumento cultural.”

“Muitas pessoas conseguem uma concessão de uma rádio, não exploram e alugam a rádio: botam o dinheiro no bolso sem fazer nada. A concessão não é dada para você alugar, para você explorar. Ela é dada pra você prestar um serviço público. Então eu penso que o setor de rádio no Brasil precisa de mudanças profundas e drásticas que nenhum governo até hoje teve coragem de fazer. Nem o governo do meu partido.” “O que a gente faz de bom é sempre o que menos aparece e o que mais frutifica longe e além de nós.”
ARTUR DA TÁVOLA (1936-2008) N.A. – Para se ler preferencialmente ao som de Antonio Vivaldi (1678-1741), compositor favorito de Artur da Távola. Compilação e edição: FMPeixoto (ABI 0952-C)

domingo, 15 de outubro de 2017

Nós da Poesia prepara nova edição. Participe até 15 de janeiro de 2018!


A próxima antologia Nós da Poesia (volume 6) terá como tema Va...idades / Van...idades(falará sobre a passagem do tempo, memória e valorização da vida). 

Participe enviando 4 poemas ou prosas poéticas. As inscrições estão abertas de hoje 15/10/2018 a 15/01/2018. 

Basta enviar seus textos em português ou espanhol para o e-mail: nosdapoesia@gmail.com. 

Participe e concorra a prêmios de publicação para os 3 primeiros colocados e de edição cooperativa para 30 participantes. A publicação é organizada pelo Instituto Imersão Latina.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Concurso Libro Internacional Puente de Palabras recibe cuentos y poesías hasta 10 de deciembre

CONCURSO "LIBRO INTERNACIONAL PUENTE DE PALABRAS XV"
Bases y condiciones: Tema Libre
1- Participantes - Concurso Infantil - Menores de 15 Género Cuento o Género Poesía - Enviar 3 copias.
2 - Participantes - Concurso Adulto - Enviar 3 copias 
Género Poesía hasta 30 versos
Género Cuento o Reflexiones o Máximas, hasta 2 páginas interlineadas letra Arial 12 - Enviar Curriculum breve con foto, máximo 10 renglones dentro del sobre con seudónimo y nombre de su obra, género y datos personales, email y telefono
3 - Concurso Arte Tapa de Libro 2019- Enviar una foto de la obra pictórica, con muy buena definición junto con 1 sobre dentro, con pequeño curriculum con foto, más datos personales 

4 - Enviar una sola obra por género Por triplicado.  Recepción de obras hasta el 10 de diciembre de 2017. A nombre de Gladys Lopez Pianesi, Dirección: Juan Manuel de Rosas 1442 Piso 11 Dto 01- 2000 -Rosario - República Argentina
El libro Internacional Puente de Palabras XV, "15", se entrega en el mes de Abril de 2018 en el marco del Foro Internacional de Arte y Literatura Puente de Palabras del Mercosur. Cultura de Extremo a Extremo.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Sarau da Palavra promove encontro poético na Livraria Ouvidor Savassi


No próximo sábado Brenda Marques apresenta poemas e contos de seus novos livros Desnaturalizados  Manos Pulsantes com a mediação do curador Leandro Alves

Em sua segunda edição, o projeto Sarau da Palavra da Livraria Ouvidor Savassi veio pra ficar e ocorrerá  uma vez ao mês, sempre aos sábados pela manhã promovendo o encontro entre poetas de Belo Horizonte e de outras partes do Brasil. No próximo sábado a  jornalista e escritora Brenda Marques Pena será homenageada e concederá uma entrevista ao organizador Leandro Alves que  fará a leitura de contos e poemas da autora.  A autora apresentará contos e poemas  dos seus últimos livros Desnaturalizados e Manos Pulsantes, lançados este ano no Uruguai  e na  Argentina.

Essa edição contará também com   a intervenção  musical do DJ Fernando Fonseca que durante o evento brindará o público com canções da Bossa Nova,  Jazz, MPB e  afins. Foi o próprio DJ que abriu as portas para este projeto, já que ele começou a fazer intervenções musicais aos sábados na Ouvidor durante o lançamento de livros. Foi ele que  convidou o estudante de Letras Leandro Alves para mediar o primeiro Sarau da Palavra,  que ocorreu no dia 15  de julho  e teve  como convidado o poeta  e agitador cultural Rogério Salgado que trouxe outros poetas participantes: Marcia Araújo, Petrônio Souza Gonçalves, Virgilene Araujo e  o cantor  e compositor Cristiano Lima.

Devido ao sucesso da edição anterior, desta vez com o apoio do Instituto Imersão Latina,  o evento  vem para se consolidar na agenda cultural   das manhãs mineiras.

Sobre o Sarau da Palavra

O evento tem por objetivo promover o encontro entre poetas de toda Belo Horizonte e de todo o Brasil. O Sarau da Palavra ocorrerá todo o mês na Livraria do Ouvidor e terá sempre como convidados poetas de  diversos cenários mineiros.

O sarau que conta com a curadoria do poeta Leandro Alves, aproveita o ensejo para fomentar a produção cultural e literária mineira. O Sarau da Palavra é um espaço para performances, leitura de poemas, música, venda de livros, sessão de autógrafos e rodas de conversas com autores convidados pela Ouvidor Savassi.

Para a Livraria Ouvidor,  o Sarau da Palavra é um ensejo para promover novos poetas e fazer uma ponte entre outros autores e o público.  Além de ser uma oportunidade para que o público conheça os autores e compre livros autografados, estimulando assim a circulação de suas publicações e o fomento à leitura e ao livro.

Sobre a escritora convidada
Brenda Marques Pena é jornalista e escritora. Trabalha na produção do programa Agenda da Rede Minas.  Preside o Instituto de Imersão Latina, integra os coletivos Nós da Poesia e Contorno, o circuito de Narradores e  poetas do Mercosul, o movimento aBrace, com sede em Montevidéu, Uruguai e no Brasil a Rede Sem Fronteiras.

Informações à imprensa
Leandro Alves Pereira (curador)
E-mail: falecom.leandroalves@gmail.com

Entrevistas com a autora:
Brenda Marques Pena (escritora)
brendajornalista@gmail.com

domingo, 9 de julho de 2017

Uma viagem à memória de Penedo por Zurica Peixoto


Zurica no Rio de Janeiro - Foto Arte Acadêmica, Rio, anos 1940


“Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.” 

FERNANDO PESSOA (1888 – 1935) 
Rio de Janeiro, junho de 1940.

Acometida de forte gripe, moléstia importuna, cacete, que me retém em casa, esclusa e sem poder sair, sinto-me isolada, qual prisioneira que estivesse a cumprir sua pena. Aborrecida, sem saber o que fazer, tomo ao acaso os jornais vespertinos, cheios de escandalosos cabeçalhos. De relance, corro os fatos do dia, as crônicas sociais... São inúmeros os programas dos cinemas e teatros. Há reclames e mais reclames das festas juninas nos clubes e cassinos. Jogo à distância os jornais. Tudo me enfastia nesta noite. Em casa, quase todos saíram. A solidão deixa-me ainda mais aborrecida e entediada... Por que diabos inventaram a doença, principalmente quando se é moço?...

Passeio em volta da sala de estar. Ando para lá e para cá, num vaivém contínuo. Detenho-me ao rádio e ligo, indiferentemente, na estação da Mayrink Veiga, onde César Ladeira e Sônia Oiticica fazem um comentário pitoresco. Eles dizem uma porção de coisas; prós e contras sobre o São João aristocrático de nossos dias, cheios dos bizarros sons de jazz, confrontando-o com o São João de outrora, simples e familiar, acompanhado de toadas, canções sertanejas e desafios dos melhores violeiros. Algumas de suas palavras despertam-me o subconsciente e, num instante, como atingida por varinha mágica de contos de fadas, vejo- me a encetar uma longa travessia aérea... E lá me vou, pelos ares, rumo às plagas nordestinas, em condução prodigiosa, rápida como o relâmpago, e que tem a dupla vantagem de ser gratuita e de levar- me às regiões longínquas do meu passado. Estou chegando. Pouso em um rio imenso, o segundo do Brasil, e aporto numa cidade pequenina, alevantada entre penedos. É noite de São João, e como é diferente o São João na minha terra... Ponho-me a percorrer os sítios conhecidos. Nas ruas mais afastadas, à porta de cada casa, há uma árvore e uma fogueira acesa. Chegam- me aos ouvidos os estrépitos da lenha, o pipoco do milho.

Reacende um cheiro gostoso de batata doce assada na brasa... Como a iluminação elétrica ainda não é muito intensa, perfeitamente distingo os balõezinhos coloridos dispersos no ar, tremeluzentes, irrequietos, em sua carreira de pequenos astros fugidios. Bombas e traques estouram em derredor, acompanhados dos gritos da criançada. Girândolas e girândolas de foguetes sobem ao céu, soltando uma cauda deslumbrante de lágrimas multicores.

Vou me aproximando do Cajueiro Grande. Ao longe, diviso minha casa, aquele chalezinho vermelho cercado de jasmineiros em flor. Lá estão os grandes terraços, tendo a vista para o Rio São Francisco, o Morro do Aracaré, a Passagem e Vila Nova... Vejo-me então pequenina, a discutir com os irmãos: - Também eu quero busca-pés!... Papai repartiu igualmente todos os fogos, e não é justo que vocês os tomem só porque sou menina. Por que não devo soltá-los?... Sou valente e corajosa!... O São João era a minha festa predileta. Sonhava com essa noite, em que se distribuíam jogos e folguedos, que deveriam estender-se até o dia de São Pedro. A casa se enchia de gente. Vinham os parentes, os amigos. E a meninada da vizinhança corria à nossa porta a fim de assistir ou de participar da nossa alegria... A canjica, o milho verde, assado ou cozido, o cuscuz, o mel de engenho, a mãe-benta, o licor de jenipapo, enfim, não faltava à mesa nenhuma das iguarias sanjoanescas. Bons tempos de fartura e de cordialidade... Um pouco adiante da nossa residência realizava-se anualmente a célebre batalha das espadas, travada entre o pessoal de Manoel Catarinho e o de Antônio Sotero, conhecido proprietário da fábrica de fogos de artifício da cidade. Essas batalhas eram muito interessantes e de lindo efeito visual, apreciadas a distância, pois quase sempre saía gente queimada dentre os participantes.

Uma garota de oito anos, ágil, esperta, era eu, naquela época, o tipo da pequena levada da breca. Tendo bem nítida a noite em que, desviando-me da vigilância paterna, tomei uma das grandes pistolas destinadas aos adultos e, em um gesto muito de afoiteza e algum tanto de audácia, corri à rua, resolvida a soltá-la. Tão forte era esse fogo, que necessitei de auxílio da filha do jardineiro, que o segurou enquanto eu lhe ateava chama. E o meu castigo foi tremendo... Até hoje o trago visível no rosto. Ao retomar a pistola, impelida por força brutal, e desprendendo-se de minhas pequeninas mãos, ela estourou-me ao queixo, causando-me enorme queimadura. Perdi os sentidos. O sangue jorrava-me do maxilar inferior em borbotões. Todos, alvoroçados, vieram ao meu encontro, e o Paizinho, desvelado e aflito, tomou-se nos braços, carregando-me para dentro. Despertando do susto, notei o sobressalto geral, e imagino grave o meu estado. Angustiada, abracei-me ao Papai querido e, como se ele pudesse me livrar de todo e qualquer perigo, roguei-lhe, aos soluços: - Meu Paizinho, não me deixe morrer... Entre um sem-número de brinquedos, em meio a carinhos e afagos, a vida me era fácil e risonha... Na minha inconsciência de criança, o mundo tinha para mim a magia suprema dos reinos maravilhosos dos países encantados. No São João que se seguiu, imaginaram todos que o acidente me tivesse tornado mais quieta e medrosa. Enganaram-se, entretanto, quando me viram surgir entre a meninada, fogos em punho, com a mesma audácia de sempre... Que longe vai tudo isso... Bons tempos... O mundo gira, gira... A vida toma outro rumo... As coisas se modificam e se transformam. Eu cresci e me tornei mulher. Com o decorrer dos anos surgem as lutas, os obstáculos, tristezas e decepções...

 Mas... Cuidemos de voltar ao ponto de partida. Antes de seguir, porém, quero rever de perto a casa querida que me escutou os primeiros passos... A casa que tanto amei... O jardim, a sala de estudo, meu quarto, as sacadas, o socavão, o telhado. E até o galinheiro grande, o tanque do jardim e as velhas mangueiras, todos os cenários onde se desenrolaram as minhas travessuras... Meu primeiro amor...

Aproximo-me do botão; toco a campainha e ninguém aparece. Tenho uma vontade louca de pular o gradil do jardim, como fazia antigamente, e então me apercebo, já não sou criança, e como tudo está modificado!... A casa nem parece a mesma. Pintaram-na de outra cor e deram-lhe uma forma diferente. Novas gentes moram ali, restando poucos vestígios daqueles que dantes a habitaram. Apenas os grandes terraços e as velhas mangueiras conservam-se os mesmos; silenciosos, serenos e impassíveis. E guardam consigo, implacavelmente, uma saudade infinita. Saudade esta que eles não me podem contar...

(Penedo 2001 - Foto TCM Peixoto)

LÁ VAMOS NÓS DA POESIA…