quinta-feira, 30 de julho de 2015

sábado, 25 de julho de 2015

Um cara poeta ativo tem o que contar


Rogério Salgado lança Poeta Ativistaautobiografia, e Sopro de Deus (poemas)


Por Vinícius Fernandes Cardoso

foto de capa do livro por Brenda Mars

Um depoimento, ainda que tardio

Q
uando Rogério me enviou um e-mail, ainda em 2014, dizendo-me que estava escrevendo a sua autobiografia e pedindo-me depoimento sobre ele, imaginei uma tarefa que casaria crítica literária e biografia, respondendo-o que eu estava atrasadíssimo na leitura dos seus poemas para atender a sua demanda, mas ele me replicou que não queria crítica literária e sim um depoimento sobre “a pessoa Rogério Salgado”, o que piorou a situação, devido ao temor que senti em falar dele. Confesso que fiquei desajeitado, pois imaginei um texto que viesse falar de defeitos e qualidades de um ser humano, algo sempre suspeito e perigoso.
Após a leitura de Poeta Ativista, sua autobiografia, percebi que aumentei demais minhas expectativas e exigências quanto a escrever o solicitado depoimento. A leitura é agradável, fluente. Há um capítulo dedicado aos depoimentos, onde várias pessoas, em textos simples, falam sobre o poeta do Padre Eustáquio/BH.
O que escrever sobre Rogério Salgado, ainda que tardiamente?

O pouco que sei

Conheço-o desde o 1º Belô Poético – Encontro Nacional de Poesia, realizado no belíssimo teatro da Fundação de Educação Artística em 2004, mas, de esguelha, sei que sua história é antiga, de quando eu nem era nascido. Só para ter-se uma ideia, quando eu tinha um aninho de idade, Rogério lançava a Editora e Revista Arte-Quintal, em 1984.
Ele é um dos cidadãos que lutaram pela não-privatização da fazenda que se tornou o bem sucedido Parque Lagoa do Nado, no Itapoã, bairro que estampa em estatísticas recentes como um de melhores para se morar em BH, graças ao parque, penso.
Ele é um dos fundadores do sarau mensal do citado parque, cuja fagulha espalhou-se por outros centros culturais de BH. Atualmente, há dezenas de saraus em BH e região metropolitana, realizados por uma geração vintanista que, ciente ou não, se escora nos ombros de pioneiros.
Fora isso, testemunhei e participei, direta ou indiretamente, de projetos realizados pelo casal Rogério Salgado e Virgilene Araújo, mas confesso humildemente que vim a conhecer melhor a trajetória de Rogério após a leitura da sua autobiografia, lançada na noite de 14 de abril de 2015, em quarteirão fechado na Savassi.   

Conversas e leituras

De conversas e leituras, eu sabia que Rogério teve uma trajetória difícil, tendo perdido seu irmão mais querido e sua própria mãe, a pianista Glória Salgado, muito cedo, na infância, o que deve ser traumático para qualquer ser humano. Sobre sua adolescência, eu nada sabia, só agora, pela autobiografia.
Fui topar seu nome, não a pessoa, por conta da revista e editora “Arte-Quintal”, um ponto de encontro alternativo da vida literária de Belo Horizonte nos anos 1980. Acontece que a editora Arte-Quintal publicou a melhor antologia do conto mineiro de todos os tempos, Flor de Vidro (1991), tendo eu ganhado um exemplar do livro das mãos do saudoso José Afrânio Moreira Duarte, poeta na juventude, contista, ensaísta, membro da Academia Mineira de Letras e reitor da Universidade Livre, projeto de extensão da Academia que perdura até hoje, aberto ao público em geral. Afrânio, como crítico literário, escrevia tanto sobre autores consagrados, quanto incentivava estreantes.

Flor de vidro

Embora eu não conhecesse a pessoa, topei com o nome de Rogério Salgado estampado na antologia Flor de Vidro, onde consta um conto seu, “Vaca na cabeça”, na página 279. Não é o único conto de Rogério que li, mas “Tontinho” também, que gerou o seu primeiro livro, cuja vendagem foi-lhe importante para sobreviver em fase difícil em BH, como suas memórias revelam.
Rogério, por vezes, passava-se por “chato”, ao propalar aos ventos viver da sua arte, fato que o orgulha; só gosto de lembrar que cada um possui uma trajetória própria e que há mais de uma forma de honrar as artes, inclusive, sem viver dela. Dito isso, quero crer que o poeta, ao exibir seus brios, busca também incentivar os neófitos indecisos, que é possível viver como artista no Brasil, desde que em pleno sacerdócio. Rogério é tenaz naquilo que faz, como todos aqueles que querem ver projetos não-lucrativos virem à tona.
Rogério me ensinou uma lição que nunca esqueci, inclusive, muito útil para olhar de forma crítica ações chamadas de “voluntárias”.
Suponha que será realizada uma empreitada qualquer. Muito bem, ela é por uma determinada causa, então, que ganhe a causa, sem ninguém embolsar nenhum centavo; agora, a partir do momento em que alguém ganhar tutu, que os outros que trabalharam também ganhem, em proporções devidas ao esforço. Ou ninguém ganha, ou todos ganham.
Diga-se de passagem, essa lição não está no seu livro.
Poeta Ativista permite uma leitura leve e fluente, nos faz mais pertencentes à história cultural e literária belo-horizontina e mineira, especialmente aos escritores e poetas da província; através da sua leitura, conseguimos atar alguns nós: quem conhecia quem, quem era amigo de quem, quem era da geração de quem, quem fez isso, quem fez aquilo, conhecimento interpessoal-sociológico que serve de contraponto ao anonimato reinante nas sociedades de massa, aglomerada solidão onde ninguém reconhece ninguém; contraponto à anomia, ao mundinho azul do Facebook, onde há muito amigo e pouca amizade. Rogério é homem de amigos de carne e osso de todas as horas, como Wagner Torres, prefaciador de Poeta Ativista.

Sopro de Deus

É bom lembrar que a edição encerra duas obras, parecendo promoção “Leve duas, pague uma!“. Após as páginas dedicadas a Poeta Ativista, segue Sopro de Deus, poemas que versam sobre vários assuntos: infância, nostalgia, perdas, amizade, amor e da relação do poeta com o divino, em especial o poema que dá título ao conjunto.
Sopro de Deus é prefaciado pelo poeta Luiz Otávio Oliani e pela psicóloga Sonia Maria Horta Freire.
   Por fim, com a palavra, o poeta:

SIMPLES

Minha vida é feita de perdas
primeiro meu pai, segundo minha mãe
depois meu irmão e muitos amigos
como também vários amores

mas ganhei a poesia
forma simples de dizer sem medo
aquilo que acontece dentro de mim
sendo isso tão importante
que se eu não a tivesse
não poderia expressar
que minha história é feita de perdas...


Rogério Salgado nasceu em Campos de Goitacazes/RJ, em 1975e vive em BH. Poeta, autor de 20 livros, entre outras realizações. O homem continua pirraçando por aí.   



Obras minhas no Clube dos Autores: https://clubedeautores.com.br/authors/64275
Blog Folhetim Volantehttp://folhetimvolante.blogspot.com 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Alain Bisgodofu, um poeta das ruas



Por Vinícius Fernandes Cardoso 

Um poeta está nas ruas
N
ão me recordo quando conversei com Alain Bisgodofu pela primeira vez; se me falha o momento, a localização seria fácil: em algum lugar da geografia literária e boêmia de Belo Horizonte: Rua da Bahia, Edifício Arcângelo Maletta, Palácio das Artes, Praça da Liberdade, Savassi, não sei, até mesmo porque sempre vi Bisgodofu caminhando, tal qual um andarilho, sempre inquieto de corpo e alma.
Desde quando frequento efemérides em BH, deparo-me com ele perambulando pelas ruas do Centro e arredores. Que figura! Por vezes, um cruzava o caminho do outro, agora menos porque ambos rodam de moto, e o motorizado não vê a cidade, não vê as pessoas, ele passa por elas.
Quando a pé, um acabava  trombando com o outro, seja no baixo, seja no alto Centro. Ele me conta sobre suas novas andanças e empreitadas, eu, geralmente enfiado em alguma rotina, conto minhas maçadas. O que nunca disse a ele, digo agora, é que a sua presença deambulante pelas ruas de BH sempre me impressionou e me deu uma referência: um poeta está nas ruas.

Um dândi suburbano
Quem já fitou Bisgodofu por aí, percebeu que, geralmente, ele anda bem trajado, não necessariamente alinhado ao rigor clássico, mas bem agasalhado e elegante, como um dândi parisiense. Quem sabe ele seja a reencarnação de um poeta simbolista ou surrealista da belle époque francesa? Ou o reencarne do escritor carioca João do Rio, conhecido pela gala? Bisgodofu passaria a ser, nesta vida, o “João de BH”, que tal? O poeta parece ter um camarim da Globo, quem sabe ele herdou um roupeiro de teatro de ópera?
Gozação à parte, a elegância de Bisgodofu vem de dentro para fora, não se trata de ostentação, esnobismo ou exibicionismo. A galerinha de hoje, que faz selfie de qualquer coisa, achará “massa o look” do poeta, sem entender que Bisgodofu é de outros carnavais. Ele é de 1978, portanto, anterior às modas hodiernas. 
Eu também não sei por que Bisgodofu traja-se como um poeta, talvez porque ele seja um. O que eu manjo é que nele a vestimenta não cai forçada, não se trata, por exemplo, de um empetecamente de roupas de grife, até mesmo porque os poetas na mais das vezes não têm recursos para essas gastanças. Como artista plástico, quem sabe Bisgodofu use o próprio corpo como suporte para exercitar combinações estéticas? Sei que esse papo pode soar afrescalhado aos machões, mas lembro-lhes que a moda é uma arte da sedução. Exemplo? Uma vez uma garota ficou atraída por mim devido a uma jaqueta jeans que eu usava à época, isso procês vê
Essas abobrinhas todas são para dizer que Bisgodofu deixa impressão, entre outras coisas, pelo trajado. Lembro-me de conversas com amigos, nas quais alguém queria cita-lo e, para o interlocutor entender de quem se falava, por vezes era citado o fator indumentário:

—Lembra-se do Bisgodofu?
— Bisgodofu? Quem mesmo?
— Aquele do Palácio das Artes, da Savassi, que anda todo arrumadinho.
— Ah, sim, figuraça!

Por essas indexações que as pessoas fazem, alguns indivíduos vão tornando-se “lendas”, claro, sempre com o risco da caricatura. Quem sabe seja o caso do nosso poeta? Quem sabe ele esteja tornando-se uma espécie de figura folclórica, um Celton, o herói de Belô ou uma loira do Bonfim, algo que, pelo que o conheço, ele odiaria.  

“Você é dos meus, da minha linhagem”
Alain Bisgodofu é alguém quase impossível de definir e mesmo difícil de descrever (quem não o é?), até mesmo porque o poeta mantém uma penumbra de mistério sobre si, nem mesmo nos revela data de natalício. É poeta de mão cheia, visceral, artista plástico também.
Nascido no Rio Grande do Sul em 1978, quem o conhece de vista, geralmente em suas andanças, toma-lhe como uma espécie de reencarnação dos antigos saltimbancos da Idade Média, dândi tardio de uma ‘parisiense’ Belo Horizonte de outrora; desde onde sei, Bisgodofu perambula, qual um gênio, falando com seus botões e abordando possíveis compradores dos seus livretos.
Costumava carregar rabiscos dentro de uma valise, tempos outros, levava consigo a sua máquina de escrever portátil; duns tempos pra cá, despojou-se desses objetos e passou a decorar os próprios versos. É uma das memórias mais potentes que já vi na minha vida, podendo citar detalhes de histórias idas e vindas, pessoas vivas e encantadas, com brilho e entusiasmo.
Conheceu presencialmente o poeta surrealista Roberto Piva que, lendo-lhe os versos de As Pregas da Boca (2008), livro de estreia de Bisgodofu, chegado a Piva por mão de terceiros, teria dito: “Você é dos meus, da minha linhagem”.

A sinceridade das crianças e a barbárie brasileira
Bisgodofu publicou por conta própria os seus quatro livros. As Pregas da Boca, o livro inaugural,chegou a ser vertido para o francês. Dito isso, os seus livros são uma amostragem da sua obra total, pois muitos dos seus escritos permanecem desconhecidos no seu blog, intitulado “Nenhuma ousadia é fatal” (www.bisgodofu.blogspot.com.br), título que remete a verso do desconhecido poeta francês René Crevel, desconhecido por nós, pois os autores desconhecidos pela média são exatamente os lidos por Bisgodofu. 
Nunca me desceram redondo os versos de Fernando Pessoa que dizem ser o poeta um fingidor. Muitas vezes, pelo contrário, tenho para mim o Poeta como ser um portador de Verdade; mas, como vocês sabem, “verdade” é uma palavra complicada, os filósofos caem de pedra em ouvi-la sem o devido relativismo. Para agradar os filósofos, fiquemos com apenas uma das “verdades”: refiro-me a sinceridade das crianças.     
Não à toa, Bisgodofu assina os seus textos como escritos por “Alain Bisgodofu e suas crianças que brincam em tempos de guerra”,  sugerindo assim, a sinceridade das crianças; já “os tempos de guerra”, num país sem guerra oficial, como o Brasil, talvez se explique pela guerra social, não só a luta de classes, na ótica de Marx, mas (por que não?) à guerra de todos contra todos, na visão de Thomas Hobbes, considerando a generalidade da barbárie brasileira. 

As Pregas  da Boca e Pajelança  da voz: poesia da oralidade
Como é comum com quase todos os autores, o primeiro livro é sempre sintomático, apresentando uma tônica que, de um modo geral, mostra o jeitão daquele criador dali em diante. 
As Pregas da Boca (2008), desde o título, evidencia a acidez e mordacidade de uma poética iconoclasta que lança mão de amarguras, ironias, deboches, delírios, ao fazer poético. O livro começa citando o lamentoso Jó, o da Bíblia:
Minha alma certamente se enfada da minha vida. Vou externar minha preocupação comigo mesmo. Vou falar na amargura da minha alma!

Aliás, todos os longos poemas do livro são precedidos por epígrafes e citações, seja de livros bíblicos, seja de autores como Raduan Assar, pois referências sobram ao autor erudito, nenhuma delas gratuita, colocada li por mero empavonamento, pois conversam com as próprias angústias do poeta, aliás, há quem diga que a Literatura instaura um diálogo silencioso entre mortos e vivos, entre indivíduos de épocas diferentes, linhagens que se reproduzem ao longo do tempo.  
Do segundo livro de Bisgodofu, Pajelança da voz (2012), me chamou atenção o poema intitulado “rarámuri” (p.47), que me remeteu a uma experiência do autor entre índios de Goiás, que me foi contada por ele. Ah, bom que se diga, falamos de um poeta que parece viver a poesia, antes de escrevê-la. O poeta Roberto Piva, que elogiava a vivência, escreveu: “Não acredito em poeta experimental que não tenha vida experimental”.
Não sei se por isso, Piva gostou dos poemas de Bisgodofu, fato é que nosso Alain, em pleno século 21 (querem crer os meus pruridos românticos), teima em não dissociar vida e arte. Mesmo sem ser maluco de estrada de todo, Bisgodofu é um nômade, um experimentador da vida. Mesmo hoje, quando talvez a idade e à responsabilidade de pai o refreiem, ele transita, pelo menos, por quatro cidades brasileiras, a saber: Contagem, BH, São João del-Rey e Arraial da Ajuda, onde mora a sua querida filha.
Não tenho vergonha de confessar de que, para assimilar os dois primeiros livros de Bisgodofu, eu precisaria ver e ouvir o autor os declamando, isso porque ele é um poeta da fala, antes de ser um poeta do papel; seus versos são narrativos e delirantes, sem pontuação. Se ele escrevesse como um parnasiano, era só seguir a pontuação para saber como declama-los, o que não é o caso.   
Careço, idealmente, presenciar o próprio poeta declamar os poemas de As Pregas da Boca (2008) e Pajelança da Voz (2012), para assimilá-los melhor, algo ainda sem ensejo. Se me falta audição dos livros citados, para compensar, presenciei o poeta me declamando outros poemas seus. Bisgodofu fala (berra, se houver burburinho) os seus poemas com vibração, geralmente gesticulando, encarnando o poema. Sendo assim, penso que não devemos ler As Pregas da Boca e Pajelança da Voz, em leitura íntima e silenciosa, mas em voz alta, se possível, em delírio.

Influências literárias?
Bisgodofu é um leitor de autores incomuns, um leitor erudito, não livresco, mas que lê os seus eleitos com gosto e envolvimento. Quando conversamos, às vezes, ele me reporta às suas leituras que, diga-se de passagem, são raras e interessantes.
Será que o nosso poeta influenciou-se por suas leituras?
Ora, cruzando as suas leituras (que vão da poesia ao romance, de autores estrangeiros a brasileiros, de autores clássicos a marginais) com suas escritas, penso que ele pode ter sim recebido influências (Antonin Artuad, Charles Bukowksi et al), mas assimilou essas influências sem instaurar uma crise de identidade ou, pelo menos, soube disfarçar eventual “angústia da influência”, aqui eu citando o crítico literário estadunidense Harold Bloom.
Penso que Bisgodofu pode ficar despreocupado em matéria literária, uma vez tendo digerido bem as suas influências literárias sem sofrer bloqueios, inclusive, conseguiu transportá-las para o seu tempo histórico e pessoal. Como que ele recolheu lições dos seus eleitos e as transportou ao seu tempo vivido. Com isso, não quero dizer que, como autor literário, ele escreveu obras do mesmo nível das que o influenciaram, mas que conseguiu ser ele mesmo, após passar por elas, tendo elas apenas acrescentado àquilo que já havia nele, influências que não o dispersaram, alienaram-no, mas que aprimoraram a sua mensagem, somando-se ao seu eu lírico.

Paquera instantânea e Infernografia: o surgimento da personagem (quase alterego) “Nina sem Meia”
Em 2014, Bisgodofu lançou dois opúsculos que, sem querer elogiar, são algo novo em relação aos seus dois livros anteriores. 
“Paquera instantânea: guia prático de relacionamentos e outras afinidades sem futuro” trata-se de um livrinho com várias sátiras, tiradas, sacadas, “sabedorias” de boteco e de vida, tudo temperado com jocosidade e ironia, aonde o tema erótico-amoroso conduz a pulsão. No último poema, aparece Nina sem Meia, personagem feminina erotizada, vista dum prisma quase machista.
Em “Infernografia: confissões de uma psicóloga que nunca foi brocha”, Nina Sem Meia aparece com toda a força, na primeira pessoa. Personagens assim são comuns na Literatura. Lembro-me de “Mirna”, personagem de Nelson Rodrigues.
Nina em Meia, penso, foi um achado do nosso poeta, a quem ele debruçou-se sobremaneira, a ponto de manter uma verdadeira sequencia folhetinesca da personagem no perfil Cabaré Literário, no Facebook. Bisgodofu, às vezes, em um único dia, fazia três, quatro, cinco postagens com poemas escritos sob a voz de Nina sem Meia, sua psicóloga desbocada.

Da poesia intransitiva ao folhetim comunicativo
Como eu disse lá atrás, esses novos escritos nada lembram As Pregas da Boca e Pajelança da Voz, seus dois primeiros livros, cuja linguagem era mais “bisgodufudiana”, delirante, intransitiva; já os seus novos opúsculos, apresentam linguagem mais comunicativa ao leitor médio atual, impinge-nos uma personagem criada na fértil imaginação erótica do autor.
Embora a linguagem dos seus últimos folhetins apresente-se mais “comunicativa”, nem por isso, ela perdeu em dinâmica, inventividade e protuberância vocabular; é mais acessível, nem por isso mastigada. Bisgodofu usa (quase abusa) gírias e palavrões do vernáculo corrente, mas manipula o léxico com maestria de artífice da palavra, sabedor do prazo de validade de cada vocábulo. 
Pessoalmente, agradou-me esses dois últimos livretos do poeta, no que sou suspeito em dizer, pois geralmente gosto das letras (verso, prosa) que conseguem alcançar algum grau de comunicação entre autor e leitor, e Paquera Instantânea e Infernografiaconseguem fazer isso, são textos possíveis de ler-se em mesa de boteco e os convivas prestarem alguma atenção.

Uma poesia pirada num mundo careta
Bisgodofu é poeta difícil do leitor acompanhar, não só porque os seus poemas são delirantes, mas porque é escritor produtivo. Quem ler o que há dele publicado, fica pasmo. Criatividade é mato.
O mestrando ou doutorando que escolhê-lo como “objeto de estudo”, daqui, sei lá, 100 anos, quando o poeta estiver comportadamente morto, vai passar rabo, primeiro porque o orientador nada poderá orientar, segundo porque o nobre estudioso se deparará com uma poética pirada em um mundo careta.
Maio de 2015.
 
Blog Folhetim Volantehttp://folhetimvolante.blogspot.com.br/

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Biblioteca Pública está com inscrições abertas para palestra gratuita de formação do leitor literário


A Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, em parceria com a Editora Lê, promove no dia 13 de agosto (5ª), de 14h a 17h, a palestra A Formação do Leitor Literário, com o autor e educador Caio Riter.

Baseada em seu livro A Formação do Leitor Literário em Casa e na Escola, a palestra de Riter tem como foco a formação de mediadores de leitura. O encontro propõe um diálogo com os mediadores, assinalando novos caminhos para a formação de leitores.

Autor de livros infantis, literários e paradidáticos, e ainda professor no ensino fundamental, médio, graduação e pós-graduação, Caio vai trazer suas experiências pessoais e profissionais para o bate-papo. 

É uma oportunidade única de acolher e avaliar as sensíveis orientações do autor, que abrem perspectivas para novas atitudes no trabalho de formação do leitor literário.

A palestra gratuita é voltada para bibliotecários, educadores, escritores, ilustradores, mediadores de leitura, pais e outros profissionais ligados ao livro e a leitura.

A palestra A Formação do Leitor Literário, com o autor e educador Caio Riter, acontece dia 13 de agosto, quinta-feira, de 14 às 17h, no Teatro José Aparecido de Oliveira, na Biblioteca Pública. Praça da Liberdade, 21, Funcionários.

A participação é gratuita, e as vagas limitadas. Inscrições abertas até 7 de agosto, no link abaixo:


Para saber mais, entre em contato no (31) 3269 1253 ou cb.sub@cultura.mg.gov.br


terça-feira, 7 de julho de 2015

O Arraiá do Boi Rosado celebra a cultura popular pela terceira vez no Parque Municipal com poesia, dança e muita festança

III ARRAIÁ DO BOI ROSADO

A Irmandade e Sociedade dos Amigos do Boi Rosado convidam a todos para participar da III Arraiá do Boi Rosado à realiza-se dia 12 de julho ( domingo), às 10 horas, na Praça dos Patins, no Parque Municipal de Belo Horizonte. Concentração a partir das 9 horas na entrada principal do Parque ( da Av. Afonso Pena).

O evento comemora os aniversários do escritor Guimarães Rosa e do Boi Rosado (27 de junho) e o Dia Nacional do Bumba-meu-boi (30/06).

Quer participar de um varal poético e recital Nós da Poesia com o tema cultura popular, Guimarães Rosa, boi rosado, faça sua inscrição pelo e-mail: imersao@imersaolatina.com.

PROGRAMAÇÃO

09:00 – Concentração na entrada do portão  principal do Parque Municipal de Belo Horizonte (Av. Afonso Pena), e saída em cortejo até o ‘Arraiá do Boi Rosado’, na Praça dos Patins, no Parque Municipal.
10:00  - Rei-Boi-Liço Rosado, e roda de ciranda com o Boi Rosado. (Participação aberta a todas as crianças e adultos presentes).
11:00 – Apresentação do ‘Grupo Folclórico e Cultural Arraia do Brejo Grande’.
11:40 – Intervenção literária, coordenada pelo ‘Instituto Imersão Latina’, com recital de poemas e venda de livros.
12:00 – Oficina de desenho para crianças e adultos, com o tema ‘O Boi cor de rosa – o Boi  Rosado’, com posterior exposição dos trabalhos, em varal.
12:00 – Pescaria. ‘Pescando textos de João Guimarães Rosa’.


Realização: Sociedade dos Amigos do Boi Rosado

Apoio Cultural: Fundação de Parque Municipais de Belo Horizonte - Projeto Boi Rosado Ambiental Restaurante - Chico da Kafua -Restaurante Dona Preta- Instituto Imersão Latina – Sindute Betim – Sindute Contagem - Na Rua Contagem - Associação dos Moradores do Conjunto Califórnia.

LÁ VAMOS NÓS DA POESIA…